Boom de licitações atraem construtoras estrangeiras domingo, 27 de janeiro de 2013

De olho na extensa lista de obras
que será licitada neste e nos próximos anos, elas desembarcaram no
País com apetite redobrado e já somam contratos superiores a R$ 10
bilhões. Até agora, as empresas mais ativas são as espanholas
Isolux Corsán, Acciona e Copasa.

A carteira de projetos dessas
companhias inclui grandes empreendimentos como quatro lotes do
Rodoanel Trecho Norte de São Paulo, a linha de transmissão entre
Macapá e Manaus, as BRs 116 e 324, a linha 4 do metrô de São Paulo
e os quebra-mares do superporto do Açu, do empresário Eike
Batista.

Apesar das limitações da legislação
local para a entrada de construtoras estrangeiras no País, a
expectativa é que a lista aumente com os novos pacotes de rodovias,
ferrovias, portos e aeroportos, lançados no segundo semestre do ano
passado. Além disso, no ano que vem deverá ser licitada a obra do
Trem de Alta Velocidade (TAV), que exigirá empresas com experiência
nesse tipo de projeto.

A Copasa, que acaba de vencer um
lote do Rodoanel Trecho Norte em parceria com a brasileira
Constran, já avisou que está estudando um consórcio com empresas
espanholas para participar da licitação.

Segundo o presidente executivo da
companhia no Brasil, Hermenegildo Moreno, há muitas oportunidades
de negócios no Brasil. Antes do Rodoanel, a empresa já havia
construído um empreendimento imobiliário na Bahia, além de vencer a
licitação de um terminal rodoviário em Belo Horizonte, em Minas
Gerais.

No pequeno escritório instalado no
bairro do Pacaembu, na capital paulista, ele destacou que a empresa
está de olho em tudo, especialmente nos projetos ferroviários e
rodoviários que serão licitados neste ano. “Na Espanha, a situação
está muito complicada. Uma saída natural é o Brasil, onde o volume
de obras é muito grande.”

Mais do que vontade de ampliar as
fronteiras, a entrada no Brasil é uma salvação para as
estrangeiras, que precisam aumentar a receita em queda na Europa. A
licitação internacional do Rodoanel Trecho Norte, por exemplo,
demonstrou essa necessidade. O processo contou com 18 companhias
estrangeiras, entre espanholas, italianas, portuguesas, francesas,
argentinas e coreanas. As estrangeiras levaram quatro dos seis
lotes.

Investimento. Sozinha, a espanhola
Acciona arrematou dois lotes da obra, cujos investimentos somam R$
1,4 bilhão. A empresa já participa de outros projetos no Brasil e
frequentemente tem sido vista nos leilões de concessão do governo
federal. Um dos primeiros foi a concessão da BR-393, licitada em
2007 pelo então presidente Lula. A companhia também conquistou
importantes contratos com a empresa de Eike Batista para construção
de um estaleiro e de quebra-mares no superporto do Açu. No total,
os projetos no País somam algo em torno de R$ 3,5 bilhões.

Tão agressiva como a Acciona, a
Isolux Corsán foi além. Transferiu a sede para o Brasil e abocanhou
projetos estratégicos do governo paulista. Além do Rodoanel, cujo
contrato soma R$ 647 milhões, a empresa também é responsável pela
construção da linha 4 do metrô de São Paulo e da linha de
transmissão que vai ligar Manaus e o Amapá ao sistema interligado.
A espanhola tem cerca de R$ 5 bilhões em contratos no Brasil.

A presença de construtoras
estrangeiras no País, no entanto, já desperta mal-estar entre as
empresas nacionais. “Algumas estão praticando preços muito baixos
e, no fim, não vão entregar o que prometeram”, afirma o presidente
da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop),
Luciano Amadio.

Ele se refere ao caso da espanhola
OHL (comprada pela conterrânea Abertis), que arrematou 5 dos 7
lotes de rodovias federais, mas não cumpriu o cronograma de
investimentos.

Outro executivo do setor de
construção civil, que prefere não se identificar, lembra que a
Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) contratou a chinesa Citic
para construir uma coqueria e teve complicações. Apesar disso, as
asiáticas continuam rondando o País para tentar expandir os
negócios por aqui. Diferentemente de espanhóis, italianos e
portugueses, os chineses têm problemas de adaptação por causa da
língua e da cultura.

A maioria das empresas estrangeiras
acaba trazendo toda a equipe de diretoria para comandar as obras no
País. Por isso, os chineses têm mais dificuldade. A espanhola
Copasa já começou a selecionar a equipe que virá para o Brasil
comandar as obras do Rodoanel. Além de diretores, ela trará
engenheiros. “Na Espanha sobra esse tipo de profissional. Aqui,
falta”, diz Moreno.